Tem um episódio de Sex and the City em que a Carrie passa o tempo todo refletindo sobre solidão. No final, ela senta sozinha num restaurante e pede: “mesa pra um, por favor.”
Eu sou filha única, e apesar de ter crescido com meus primos, eu sempre fui uma criança sozinha. Não tinha muitos amigos, mas nunca me pareceu um problema. Eu amava brincar sem ninguém. Viajar só com meus pais era uma delícia, tinha a atenção toda pra mim. Desde cedo, eu gostava da minha companhia.
Mas aí a gente cresce. As relações viram uma parte central das nossas vidas. O olhar alheio começa a pesar. Ser sozinha não é tão legal, ou melhor, não é bem visto. Não ter amigos, não ter um namorado ou não fazer parte de um grupo pode virar um carimbo pra uma vida infeliz. Ser invisível.
Até que um dia, aos 16 anos, eu fui no cinema sozinha. Lembro muito bem, fui assistir Deadpool. Mesmo tímida e com medo de ser julgada, eu fui. Aquele dia, foi a primeira vez que eu venci essa guerra silenciosa.
Esse pequeno ato de coragem me deu forças pra mais. A partir dali, ir ao cinema sozinha virou ir ao shopping, ir almoçar, tomar um café, sair pra andar, tudo só comigo.
Depois, virou embarcar num avião, conhecer cidades novas, museus e lugares que eu nem sei pronunciar o nome. Jantar na Itália com uma taça de aperol. Eu e eu. E, de algum jeito bonito e verdadeiro, cada passo sozinha me levou mais pra perto de mim.
A minha solitude me salvou!!
Ela me deu coragem pra não esperar. Porque se eu fosse esperar alguém, talvez eu nunca tivesse ido. Nunca teria visto o que vi, sentido o que senti, vivido o que vivi.
Foi estando sozinha eu me descobri inteira. Foi aproveitando minha própria companhia que eu entendi o valor dela.
E talvez essa seja a maior liberdade: estar em paz consigo mesma.
A Carrie pediu uma mesa, e eu o mundo. Nós duas ganhamos.
Nós mulheres filhas únicas destinadas a viver a sós ju! Mesmo assim aprendi a amar e depender do meu tempo sozinha pra manter minha paz mental
Acredito que uma das maiores provações da vida adulta é encontrar conforto na solitude. Não tem nada mais lindamente assustador do que ir pela primeira vez em um cinema sozinho e ao fim do filme sentir que superou um desafio... Vejo como uma provocação diária buscar esses momentos onde somos nossa própria companhia, quase como um date consigo mesmo. Sinto que nesses momentos, acabamos conhecendo algo novo sobre nós mesmo e isso ajuda muito nesse processo de se entender no mundo como indivíduo tanto indivíduo como em coletivo.